Pessoal ,
segue um texto do jornalista Clovis Rossi, publicado na Folha de S. Paulo (14 de julho), sobre as manifestações de junho.
Revolucionários ou burgueses?
Dois
acadêmicos estrangeiros, de posições contrapostas, chegam a conclusões
igualmente contrapostas --mas, curiosamente, ambas verossímeis-- a propósito
dos protestos no Brasil (e no mundo). O que não significa que sejam
verdadeiras, já que paira um imenso ponto de interrogação sobre as
manifestações.
Refiro-me
a artigos do esloveno Slavoj Zizek,
popstar da filosofia, para a "London Review of Books", e do cientista
político Francis Fukuyama, famoso
por ter decretado "o fim da história" com o triunfo definitivo do
capitalismo e da democracia liberal, este para o "Wall Street
Journal".
Para Zizek, os protestos são
anticapitalistas. "São todos reações a facetas diferentes da globalização
capitalista. A tendência geral do capitalismo global de hoje é no sentido de um
expansão ainda maior do império do mercado, combinada com o progressivo
fechamento do espaço público, a redução dos serviços (saúde, educação, cultura)
e uma gestão sempre mais autoritária do poder político", escreve.
Não é
difícil, de fato, ler os protestos no Brasil com essa lente. Pediram melhores
serviços públicos, entre eles os de saúde e educação, e uma reforma política
que desse aos mortais comuns um papel de maior protagonismo ante um poder
político fechado em si mesmo.
Resta
saber se são protestos contra o capitalismo como sistema, como crê o esloveno,
ou contra abusos que podem ser remediados sem jogar o sistema em si no lixo.
De todo
modo, é igualmente aceitável a conclusão de Zizek de que as manifestações são
uma "tomada de consciência de que a forma atual da democracia
representativa não é suficiente para combater os excessos do capitalismo e,
portanto, a democracia deve ser reinventada".
Não
deixaria de ser uma revolução.
Fukuyama não
vê revolução, mas "fermentos":
"O
elemento em comum nas recentes desordens na Turquia e no Brasil, como também na
Primavera Árabe de 2011 e nos contínuos protestos na China, é a ascensão de uma
nova classe média global. Onde quer que se tenha afirmado, essa classe média
provocou fermentos políticos, mas quase nunca tem sido capaz de determinar por
si só mudanças duradouras".
O
cientista político duvida que seja diferente agora.
Ao
contrário de Zizek, Fukuyama não vê anticapitalismo, mas o seu oposto no perfil
dos manifestantes:
"Grande
número de estudos conduzidos em vários países, entre os quais algumas pesquisas
do Centro Pew e dados da Pesquisa Mundial sobre Valores da Universidade de
Michigan, demonstram que pessoas com nível de instrução mais alto atribuem
maior valor à democracia, à liberdade individual e à tolerância com estilos de
vida diferentes."
Ou, posto
de outra forma, os manifestantes seriam "burgueses que reclamam não só
segurança para a própria família, mas também liberdade de escolha e mais
oportunidades".
No fundo,
é aquela velha história de que tudo depende da cor das lentes com as quais se
olha algum fenômeno.
Clovis Rossi em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/clovisrossi/2013/07/1310915-revolucionarios-ou-burgueses.shtml
Um comentário:
Cassio que maravilha saber que se passaram dez anos que fui sua aluna mas vc continua a lecionar e instigar seus alunos a pensar!Que melhor tema poderia estar falando?As manifestacoes e seus diversos enfoques.Feliz por saber de ti.Gostaria de agradecer pelo ano que pude te ter como professor no Leonardo da Vinci!Foi um terceiro ano maravilhoso!
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