O Japão e o Sistema
de Washington
O Japão possuía
uma monarquia constitucional que no período entre guerras foi encabeçada
inicialmente pelo imperador Yoshihito (reinado em 1912-1926, a Era Taisho) e
depois pelo imperador Hiroíto (reinado em 1926-1989, a Era Showa). Até a década
de 1920, sob governos liberais, o Japão manteve relações relativamente estáveis
com os EUA, a Grã-Bretanha e a França. O império colonial japonês no Extremo
Oriente, que incluía a Coreia, Taiwan e territórios no norte da China, foi
ampliado na Primeira Guerra Mundial quando o Japão, lutando ao lado da Entente,
tomou possessões alemãs no Pacífico e na província chinesa de Shantung. A
pedido dos EUA e de outros aliados, o Japão também interviu na Guerra Civil
Russa contra os bolcheviques e invadiu o leste da Sibéria em 1918, só se
retirando em 1922.
Com as
alterações no cenário geopolítico da Ásia e do Pacífico depois de 1918, EUA,
Grã-Bretanha e França propuseram ao Japão um acordo para manter a nova balança
do poder no Extremo Oriente e evitar uma guerra na região. As conversações
foram feitas na Conferência de Washington (1921-1922). Os acordos
selados em Washington decidiram que as potências deveriam reduzir suas forças
navais no Pacífico, respeitar as possessões coloniais existentes e fazer
consultas entre si para resolverem pacificamente as crises que surgissem. Os
participantes também reconheceram a independência da China e o direito de todas
as nações negociarem com ela em termos iguais, embora tenham confirmado as
concessões territoriais e econômicas dos estrangeiros. Durante a Conferência de Washington, sob intermediação dos EUA, o Japão
concordou em devolver o Shantung para os chineses, preservando porém, o
controle econômico da província. Em meados da década de 1920, a ordem internacional no Extremo Oriente,
ao menos no que dizia respeito as grandes potências, parecia estar estabilizada.
A partir da segunda metade dos anos 20, porém, coincidindo com o início
da Era Showa, essa estabilidade começou a dar sinais de ruptura. Apesar dos
compromissos dos acordos de Washington, o domínio estrangeiro na China
continuava, beneficiado pela fragmentação política do país e a inexistência de
um governo centralizado forte. No entanto,
esse governo começou a emergir no final da década de 20, quando o general Chiang Kai-shek, líder do Kuomintang (Partido Nacionalista ou KMT), inicialmente aliado ao Partido
Comunista Chinês (PCC) de Mao Zedong,
começou a unificar a China a partir de suas bases no sul, em uma campanha
militar conhecida como Expedição do Norte (1926-1928) com o apoio decisivo da
URSS, na época defensora de alianças com governos nacionalistas
"burgueses" anti-imperialistas. Apesar do auxílio soviético, em 1927
Chiang rompeu a aliança com os comunistas, que considerava serem os seus maiores
rivais. Em 1928, Chiang tomou Pequim e virou o governante oficial do país,
instalando uma ditadura monopartidária nacionalista e anticomunista. O governo
do KMT tinha se transformado na principal autoridade da China e, embora tivesse
que enfrentar a resistência armada do PCC (guerra civil de 1927-1936), criou condições políticas para
realizar um novo acordo internacional de revisão das concessões aos
estrangeiros. Isso poderia levar a China a adquirir a plena soberania nacional
mas implicaria em eliminar o que restava do domínio das potências imperialistas
no país. O Japão, por ser a principal potência com interesses na China, seria o
país mais prejudicado pela ascensão do KMT e sua política anti-imperialista.
Para os grupos expansionistas e ultranacionalistas japoneses, representados por
setores militares e empresariais, isso era intolerável. A reação desses grupos,
sobretudo dos militares estacionados em território chinês, foi pressionar o
governo japonês a abandonar os compromissos feitos na Conferência de Washington
e adotar uma nova política mais agressiva em relação à China. Quando a Grande
Depressão atingiu o Japão no final da década de 20, a situação se agravou e o
domínio japonês sobre a China passou a ser visto cada vez mais como fundamental
para a sobrevivência dos japoneses. Essa questão mergulhou o Japão em uma
violenta crise política na primeira metade da década de 1930, com atentados
contra as autoridades civis e militares de posições moderadas contrárias ao
expansionismo e favoráveis a um compromisso com o Ocidente. Em 1932, os militares acabaram assumindo o controle da política japonesa,
estabelecendo governos de "unidade nacional" que subordinaram o Parlamento
e a monarquia aos seus interesses. Na segunda metade da década de 1930, os
governos de "unidade nacional" assumiram posições mais militaristas e
imperialistas, voltadas para a expansão sobre a China. Na mesma época, ganhou
força um projeto imperialista mais ambicioso – a construção da "Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental",
que deveria integrar economicamente todo o Extremo Oriente ao Japão por meio da
cooperação regional e do colonialismo japonês, implicando na expulsão das
potências ocidentais do Sudeste Asiático e da China e dos soviéticos do Leste
da Sibéria. Em
1937-1938, o Japão estabeleceu uma aliança com a Alemanha e com a Itália, consolidando a nova política externa revisionista e imperialista. O resultado
foi a guerra na Ásia de 1937-1945.
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