quarta-feira, 24 de junho de 2015

94- O Japão e o Sistema de Washington


O Japão e o Sistema de Washington

O Japão possuía uma monarquia constitucional que no período entre guerras foi encabeçada inicialmente pelo imperador Yoshihito (reinado em 1912-1926, a Era Taisho) e depois pelo imperador Hiroíto (reinado em 1926-1989, a Era Showa). Até a década de 1920, sob governos liberais, o Japão manteve relações relativamente estáveis com os EUA, a Grã-Bretanha e a França. O império colonial japonês no Extremo Oriente, que incluía a Coreia, Taiwan e territórios no norte da China, foi ampliado na Primeira Guerra Mundial quando o Japão, lutando ao lado da Entente, tomou possessões alemãs no Pacífico e na província chinesa de Shantung. A pedido dos EUA e de outros aliados, o Japão também interviu na Guerra Civil Russa contra os bolcheviques e invadiu o leste da Sibéria em 1918, só se retirando em 1922.

Com as alterações no cenário geopolítico da Ásia e do Pacífico depois de 1918, EUA, Grã-Bretanha e França propuseram ao Japão um acordo para manter a nova balança do poder no Extremo Oriente e evitar uma guerra na região. As conversações foram feitas na Conferência de Washington (1921-1922). Os acordos selados em Washington decidiram que as potências deveriam reduzir suas forças navais no Pacífico, respeitar as possessões coloniais existentes e fazer consultas entre si para resolverem pacificamente as crises que surgissem. Os participantes também reconheceram a independência da China e o direito de todas as nações negociarem com ela em termos iguais, embora tenham confirmado as concessões territoriais e econômicas dos estrangeiros. Durante a Conferência de Washington, sob intermediação dos EUA, o Japão concordou em devolver o Shantung para os chineses, preservando porém, o controle econômico da província. Em meados da década de 1920, a ordem internacional no Extremo Oriente, ao menos no que dizia respeito as grandes potências, parecia estar estabilizada.

A partir da segunda metade dos anos 20, porém, coincidindo com o início da Era Showa, essa estabilidade começou a dar sinais de ruptura. Apesar dos compromissos dos acordos de Washington, o domínio estrangeiro na China continuava, beneficiado pela fragmentação política do país e a inexistência de um governo centralizado forte. No entanto, esse governo começou a emergir no final da década de 20, quando o general Chiang Kai-shek, líder do Kuomintang (Partido Nacionalista ou KMT), inicialmente aliado ao Partido Comunista Chinês (PCC) de Mao Zedong, começou a unificar a China a partir de suas bases no sul, em uma campanha militar conhecida como Expedição do Norte (1926-1928) com o apoio decisivo da URSS, na época defensora de alianças com governos nacionalistas "burgueses" anti-imperialistas. Apesar do auxílio soviético, em 1927 Chiang rompeu a aliança com os comunistas, que considerava serem os seus maiores rivais. Em 1928, Chiang tomou Pequim e virou o governante oficial do país, instalando uma ditadura monopartidária nacionalista e anticomunista. O governo do KMT tinha se transformado na principal autoridade da China e, embora tivesse que enfrentar a resistência armada do PCC (guerra civil de 1927-1936), criou condições políticas para realizar um novo acordo internacional de revisão das concessões aos estrangeiros. Isso poderia levar a China a adquirir a plena soberania nacional mas implicaria em eliminar o que restava do domínio das potências imperialistas no país. O Japão, por ser a principal potência com interesses na China, seria o país mais prejudicado pela ascensão do KMT e sua política anti-imperialista. Para os grupos expansionistas e ultranacionalistas japoneses, representados por setores militares e empresariais, isso era intolerável. A reação desses grupos, sobretudo dos militares estacionados em território chinês, foi pressionar o governo japonês a abandonar os compromissos feitos na Conferência de Washington e adotar uma nova política mais agressiva em relação à China. Quando a Grande Depressão atingiu o Japão no final da década de 20, a situação se agravou e o domínio japonês sobre a China passou a ser visto cada vez mais como fundamental para a sobrevivência dos japoneses. Essa questão mergulhou o Japão em uma violenta crise política na primeira metade da década de 1930, com atentados contra as autoridades civis e militares de posições moderadas contrárias ao expansionismo e favoráveis a um compromisso com o Ocidente. Em 1932, os militares acabaram assumindo o controle da política japonesa, estabelecendo governos de "unidade nacional" que subordinaram o Parlamento e a monarquia aos seus interesses. Na segunda metade da década de 1930, os governos de "unidade nacional" assumiram posições mais militaristas e imperialistas, voltadas para a expansão sobre a China. Na mesma época, ganhou força um projeto imperialista mais ambicioso – a construção da "Esfera de Coprosperidade da Grande Ásia Oriental", que deveria integrar economicamente todo o Extremo Oriente ao Japão por meio da cooperação regional e do colonialismo japonês, implicando na expulsão das potências ocidentais do Sudeste Asiático e da China e dos soviéticos do Leste da Sibéria. Em 1937-1938, o Japão estabeleceu uma aliança com a Alemanha e com a Itália, consolidando a nova política externa revisionista e imperialista. O resultado foi a guerra na Ásia de 1937-1945.

 

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