sexta-feira, 21 de novembro de 2014

86 - Roteiro de estudo


ROTEIRO DE ESTUDO PARA A PROVA DA 5 ETAPA

 Nazismo
-  Ascensão de Hitler ao poder
-  A ditadura nazista
- A política externa nazista

 Segunda Guerra Mundial
-  Motivos
- Alianças
- O conflito asiático e o conflito europeu
- A expansão da guerra em 1941

 Regime Militar no Brasil
- Características gerais
- Castelo Branco
- Costa e Silva
- Médici
- Geisel

FONTES DE ESTUDO
Esquemas e exercícios do caderno
Caderno/apostila 2 capítulos 13, 14 e 17
Livro capítulos 33 e 37

 

domingo, 21 de setembro de 2014

85 - Roteiro de estudo


ROTEIRO DE ESTUDO PARA A PROVA DA  4 ETAPA

CONTEÚDO

O Estado Novo no Brasil: origens e características

O Brasil na Segunda Guerra Mundial

O Governo Dutra

O Governo Vargas de 1951-1954

O Governo JK

A  ordem internacional no Entre Guerras: características

A crise do liberalismo no Entre Guerras: motivos e características

O totalitarismo: características e variantes

A URSS: os governos de Lênin e de Stalin

A Itália: a ascensão do fascismo e o governo de Mussolini

FONTES DE ESTUDO

Esquemas e exercícios do caderno

Caderno/apostila 2 capítulos 2,3,4,7 e 8

Livro capítulos 29, 31, 32 e 36

 

domingo, 20 de julho de 2014

84 - Bretton Woods: 70 anos


Os 70 anos da Conferência de Bretton Woods: dois artigos que saíram no jornal o Globo de hoje.

A CONFERÊNCIA DE BRETTON-WOODS: UM ESPELHO DISTANTE...

Bases da ordem econômica do pós-guerra foram traçadas no encontro em 1944

Luiz Carlos Delorme Prado - Professor do Instituto de Economia da UFRJ

Em um mundo repleto de encontros entre chefes de estado, reuniões de cúpulas, fóruns internacionais, há, hoje, um imenso ceticismo sobre a capacidade de uma conferência financeira internacional enfrentar os complexos problemas da ordem econômica mundial. No entanto, há 70 anos, por três semanas, entre o dia 1º e 22 de julho de 1944, reuniram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos, 174 delegados de 44 países, para negociações que estabeleceram as bases da ordem econômica internacional do pós-guerra.

O contexto da reunião foi único – por um lado, marcava a consolidação da hegemonia econômica e política norte-americana – obtendo para o dólar uma posição de “privilégio exorbitante”, como acusou, na década de 1960, o ministro da fazenda da França, Giscard D’Estaing. Por outro lado, criou uma ordem internacional que permitiu, durante pouco menos de três décadas, a mais elevada taxa de crescimento da economia mundial jamais registrada, acompanhada por pleno emprego e crescimento dos direitos sociais, com a expansão do Estado de Bem-Estar Social – um período chamado pelos historiadores britânicos (como Hobsbawm) de “Golden Years” e franceses (como Jean Fourastié) de “Les Trente Glorieuses”.

Duas figuras históricas destacaram-se no encontro: pelo lado britânico, no apogeu da sua maturidade, John Maynard Keynes; pelo lado americano, um dos grandes quadros do Departamento do Tesouro desse país, Harry Dexter White.

O Brasil teve uma presença relevante. A delegação brasileira, com treze delegados, foi chefiada por Artur de Souza Costa, então Ministro da Fazenda. Entre seus integrantes estavam alguns economistas que tiveram grande influência no debate e na formulação de políticas econômicas no Brasil. Entre eles, Francisco Alves dos Santos-Filho, que seria Diretor Executivo do FMI (1946-1948) e representante brasileiro no Banco Mundial; o rico e influente empresário Valentin Bouças e, ainda, Eugênio Gudin, Octávio Gouvea de Bulhões e Roberto Campos. As discussões foram organizadas em três comissões. Souza Costa, chefe da delegação brasileira, presidiu um dos quatro comitês da Comissão I, coordenada por White, que tratava da criação e do funcionamento do FMI, um dos temas mais espinhosos da conferência.

O principal objetivo era evitar que a economia mundial posterior à Segunda Guerra Mundial repetisse a trágica história econômica do período entre as duas guerras. Em especial, temia-se a repetição do impacto causado na vida de milhões de pessoas em decorrência do desemprego e da desorganização da economia provocada pela Grande Depressão. Keynes defendeu com tenacidade e brilhantismo a construção de um novo Sistema Monetário Internacional que definitivamente abandonasse os erros do antigo Padrão Ouro. Apesar das dificuldades, conseguiu que fossem aceitas algumas de suas propostas mais importantes. Ao final, como dizia Churchill, os Estados Unidos faziam a coisa certa, depois que fracassaram todas as outras alternativas.

A ordem econômica criada por Bretton-Woods tinha qualidades que superavam, em muito, seus maiores defeitos. Quando essa ordem foi abandonada, na década de 1970, o mundo viu-se novamente sujeito à crescente instabilidade financeira. Ao final, em 2008, eclodiu uma nova crise internacional em muitos aspectos similar à da década de 1930. Nada indica, porém, que seja possível repetir nos dias atuais uma negociação com a envergadura e a profundidade da empreendida naqueles dias de verão no resort americano.

Em um mundo repleto de encontros entre chefes de estado, reuniões de cúpulas, fóruns internacionais, há, hoje, um imenso ceticismo sobre a capacidade de uma conferência financeira internacional enfrentar os complexos problemas da ordem econômica mundial. No entanto, há 70 anos, por três semanas, entre o dia 1º e 22 de julho de 1944, reuniram-se no Mount Washington Hotel, em Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos, 174 delegados de 44 países, para negociações que estabeleceram as bases da ordem econômica internacional do pós-guerra.

O contexto da reunião foi único – por um lado, marcava a consolidação da hegemonia econômica e política norte-americana – obtendo para o dólar uma posição de “privilégio exorbitante”, como acusou, na década de 1960, o ministro da fazenda da França, Giscard D’Estaing. Por outro lado, criou uma ordem internacional que permitiu, durante pouco menos de três décadas, a mais elevada taxa de crescimento da economia mundial jamais registrada, acompanhada por pleno emprego e crescimento dos direitos sociais, com a expansão do Estado de Bem-Estar Social – um período chamado pelos historiadores britânicos (como Hobsbawm) de “Golden Years” e franceses (como Jean Fourastié) de “Les Trente Glorieuses”.

Duas figuras históricas destacaram-se no encontro: pelo lado britânico, no apogeu da sua maturidade, John Maynard Keynes; pelo lado americano, um dos grandes quadros do Departamento do Tesouro desse país, Harry Dexter White.

O Brasil teve uma presença relevante. A delegação brasileira, com treze delegados, foi chefiada por Artur de Souza Costa, então Ministro da Fazenda. Entre seus integrantes estavam alguns economistas que tiveram grande influência no debate e na formulação de políticas econômicas no Brasil. Entre eles, Francisco Alves dos Santos-Filho, que seria Diretor Executivo do FMI (1946-1948) e representante brasileiro no Banco Mundial; o rico e influente empresário Valentin Bouças e, ainda, Eugênio Gudin, Octávio Gouvea de Bulhões e Roberto Campos. As discussões foram organizadas em três comissões. Souza Costa, chefe da delegação brasileira, presidiu um dos quatro comitês da Comissão I, coordenada por White, que tratava da criação e do funcionamento do FMI, um dos temas mais espinhosos da conferência.

O principal objetivo era evitar que a economia mundial posterior à Segunda Guerra Mundial repetisse a trágica história econômica do período entre as duas guerras. Em especial, temia-se a repetição do impacto causado na vida de milhões de pessoas em decorrência do desemprego e da desorganização da economia provocada pela Grande Depressão. Keynes defendeu com tenacidade e brilhantismo a construção de um novo Sistema Monetário Internacional que definitivamente abandonasse os erros do antigo Padrão Ouro. Apesar das dificuldades, conseguiu que fossem aceitas algumas de suas propostas mais importantes. Ao final, como dizia Churchill, os Estados Unidos faziam a coisa certa, depois que fracassaram todas as outras alternativas.

A ordem econômica criada por Bretton-Woods tinha qualidades que superavam, em muito, seus maiores defeitos. Quando essa ordem foi abandonada, na década de 1970, o mundo viu-se novamente sujeito à crescente instabilidade financeira. Ao final, em 2008, eclodiu uma nova crise internacional em muitos aspectos similar à da década de 1930. Nada indica, porém, que seja possível repetir nos dias atuais uma negociação com a envergadura e a profundidade da empreendida naqueles dias de verão no resort americano.

BRETTON WOODS, 70 ANOS: FORA DA NOVA ORDEM MUNDIAL

No aniversário do histórico encontro, economistas defendem negociações para reforma de FMI e Banco Mundial

por Flávia Barbosa, correspondente

WASHINGTON - Em julho de 1944, 730 delegados de 44 países se reuniram no estado de New Hampshire, nos EUA, para a Conferência de Bretton Woods (em homenagem à cidade-sede da cúpula), com a missão de refundar a ordem econômica global. Sob a inspiração do economista britânico John Maynard Keynes e a articulação de Harry Dexter White, do Tesouro americano, as negociações estabeleceram as bases para o funcionamento da economia mundial, com um regime de câmbio fixo atrelado ao dólar e lastreado em ouro; a criação das instituições multilaterais de socorro – Fundo Monetário Internacional (FMI) — e reconstrução e desenvolvimento – Banco Mundial (Bird); e o rascunho dos princípios para o que três anos mais tarde seria o Acordo Geral de Tarifas do Comércio (GATT,embrião da OMC). Setenta anos depois, dizem os especialistas, mais do que celebrar o legado de Bretton Woods, as nações precisam se inspirar naquela jornada e ter a coragem política de começar discussões para uma nova arquitetura econômica e financeira mundial.

— O mundo precisa de novas negociações, à luz das transformações das últimas décadas — afirma Robert Johnson, diretor do Instituto para o Novo Pensamento Econômico e ex-integrante da comissão da ONU encabeçada pelo nobel Joseph Stiglitz para reforma do sistema monetário internacional. — Bretton Woods foi grandioso porque havia a consciência de que os países precisavam uns dos outros. Agora há necessidade, mas podem as nações reconhecê-la e se comprometerem? É possível hoje construir o entusiasmo do consenso?

Bretton Woods foi fruto do senso de urgência da comunidade internacional, lembra Marcos Troyjo, diretor do Brics-Lab da Universidade de Columbia. Naquele 1944, o mundo completava duas décadas e meia de vida no abismo, com episódios de hiperinflação, o crash da Bolsa em 1929, a depressão dos anos 30 e a devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial, que acabaria menos de um ano depois.

Neste período, notadamente as nações europeias e o Japão esgotaram seus ativos financeiros (reservas em dólar e libra, ouro), suas estruturas econômicas estavam capengas e o comércio global, travado. Diante de tamanho desafio, a resposta dos aliados foi coordenação. Para religar as engrenagens das economias, foi criado um sistema de câmbio fixo, no qual todas as moedas se atrelaram ao dólar e os EUA a lastreavam em ouro.

O regime – ao permitir a conversibilidade das moedas – restaurou a capacidade de os países realizarem grandes transações comerciais e financeiras. Havia controles de capitais. Como os recursos eram escassos, o FMI foi criado como instituição de socorro para casos de falta de liquidez no mercado. E, com a Europa em frangalhos, o Banco Mundial – que nasceu Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) – surgiu como instituição de fomento.

— A estabilização e a retomada do crescimento, com renovado fluxo de comércio, são os grandes legados de Bretton Woods. O sistema permitiu ainda o renascimento de um mercado de capitais e o desenvolvimento da Europa. Mais de 20 anos depois, a experiência era tão bem-sucedida, com trocas comerciais e financeiras intensas, que o câmbio fixo tornou-se insustentável e caiu em 1971, inaugurando a era de câmbio flutuante na qual vivemos — explica Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do FMI e professor de Harvard.

Desde então, os últimos 40 anos foram marcados pela globalização, com a internacionalização das finanças e do comércio. Um volume brutal de capitais passou a circular diariamente entre nações e os bancos começaram a operar sem obedecer fronteiras. Novos instrumentos financeiros surgiram. Os EUA, que ditaram sozinhos os rumos dos primeiros 25 anos após Bretton Woods, ganharam rivais, em um mundo multipolar com gigantes comerciais como Alemanha e Japão e a emergência da China como superpotência econômica.

Estas mudanças, diz Robert Johnson, trouxeram instabilidade e elevado risco de contágio. De um lado, o câmbio flutuante absorve melhor choques externos, ajustando a cotação das moedas frente ao dólar sem que os governos tenham que exaurir reservas ou se endividar para cobrir rombos em conta corrente. Por outro, movimentos bruscos e vultosos, de entrada ou saída de capitais, descompensam as economias, retiram competitividade, favorecem a formação ou fazem estourar bolhas de ativos e deixam os sistemas bancários vulneráveis.

REGULADOR ‘COM MAIS DENTES’

Em outras palavras, o sistema monetário e financeiro é chegado a crises – e houve mais de uma centena delas desde a década de 70, com destaque para a Asiática, de 1997, e a global, de 2008, da qual o mundo ainda se recupera. E com os agentes interagindo como se não houvesse fronteiras, as nações perderam poder de fogo para colocar ordem na casa.

Reside aí o desafio central da comunidade internacional, diz Robert Johnson. É preciso entender melhor as ramificações dessa imensa quantidade de capitais financeiros que circula sem regulações:

— Vimos depois da crise de 2008 e da política monetária expansionista dos EUA, por exemplo, muitas medidas de controles de capitais, como no Brasil. Também deve-se reexaminar o sistema monetário, pois temos a China, com seu tamanho, administrando câmbio, o que causa assimetrias, o mundo vem tendo que se ajustar à competitividade que os chineses criam. E ainda precisamos repensar o papel desta superacumulação de reservas internacionais. Quando governos reúnem essas grandes quantidades de riquezas para proteção, há implicações para o sistema global e precisamos discuti-las.

Kenneth Rogoff vai além. Como outros economistas, defende a criação de um órgão regulador global do sistema financeiro, “com mais dentes” do que os fóruns e mecanismos que existem atualmente:

— Nós temos bancos e mercados financeiros globais, mas uma enormidade de diferentes regulações nacionais, precisamos achar uma forma de integrá-las, para dar ao sistema mais estabilidade. O problema é que a crise de 2008 nos jogou em outra direção, houve uma grande retração da globalização financeira e das políticas monetárias e regulatória. É hora de coordenação.

http://oglobo.globo.com/economia/a-conferencia-de-bretton-woods-um-espelho-distante-13309671



 

83 - Genética e raças humanas

Saiu na Veja eletrônica:


O NOVO RACISMO PSEUDOCIENTÍFICO

Recém lançado nos Estados Unidos, o livro 'A Troublesome Inheritance' tenta reavivar o antigo debate sobre a existência de raças humanas. Ao site de VEJA, pesquisadores explicam que não há argumento científico válido para a discussão — e demonstram que os homens são variados, mas não o suficiente para a existência de classes diferentes entre eles

Rita Loiola

Variações genéticas entre diferentes populações possibilitam o estudo de suas diferenças, origens e rotas no planeta (Robert Churchill/Thinstock)

No início do século XVIII, o biólogo sueco Carlos Lineu começou o que se tornaria sua grande herança: a classificação da natureza. Ele separou os organismos em três reinos, inventou conceitos como gêneros e espécies e, em 1758, na obra Sistema Natural, dividiu os seres humanos em quatro categorias — que chamou de raças. O uso do conceito logo se alastrou para muito além das fronteiras da biologia, insuflando preconceitos odiosos e servindo à defesa dos mais atrozes propósitos políticos, como a escravidão, o nazismo alemão e o apartheid sul-africano. Foi preciso esperar pela década de 1970 para que a ciência se encarregasse de descreditar a noção de que as diferenças entre os seres humanos são tão profundas a ponto de constituir raças. Nos últimos 40 anos, o conceito foi abandonado nos laboratórios. Mas ele volta a ser invocado pelo best-seller A Troublesome Inheritance (Uma Herança Incômoda, em tradução livre), do jornalista científico britânico Nicholas Wade.

Em suas páginas, o autor mistura os mais avançados estudos em variação genética e as antigas classes de Lineu em um esforço para reabilitar a separação da humanidade em raças. Mais que isso, especula que a seleção natural dos genes humanos seria responsável não só pela desigualdade entre os homens, mas também pelo desenvolvimento cultural econômico das sociedades. Publicado em maio, o título fez parte da lista dos livros mais vendidos do jornal americano The New York Times e gerou uma reação violenta da comunidade acadêmica de todo o planeta, mostrando que o empenho de Wade não tem fôlego para ir longe. 

"Dos anos 1970 para cá descobrimos muitas coisas surpreendentes sobre as populações e os recentes estudos de genética mostram que há variações entre elas. No entanto, hoje temos uma compreensão maior sobre o significado dessa diversidade e sabemos que aquelas categorias raciais em que acreditávamos não existem", diz o biólogo Diogo Meyer, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e um dos maiores nomes no Brasil no estudo de genética de populações. "É infinitamente mais interessante estudar as variações dos genes que falar sobre raças, algo que empobrece o debate e a pesquisa."

A grande raça humana — A primeira menção às raças humanas é de Lineu, mas o preconceito que envolve o tema só viria a se consolidar com o aristocrata francês Joseph-Arthur Gobineau, no século XIX. Sua obra Ensaio sobre a Desigualdade das Raças Humanas fundou o que hoje é conhecido como o "racismo científico", teoria que inspirou os conflitos raciais do século XX. Essas ideias só foram destruídas pela ciência em 1972, quando o biólogo americano Richard Lewontin, da Universidade Harvard, fez uma pesquisa com pessoas que fariam parte das diferentes raças e, por meio do estudo de suas proteínas — o máximo que se conhecia de informação genética humana na época —, descobriu que os homens são profundamente semelhantes. Desde então, a discussão sobre raça humana foi encerrada pela comunidade científica. Para a Associação Americana de Antropologia (AAA), nos Estados Unidos, o conceito é uma construção social, sem validade para a ciência.

A inexistência das raças não invalida outro debate que veio à tona desde 2003, com a conclusão do Projeto Genoma: a imensa variabilidade genética das populações. O sequenciamento do DNA humano forneceu aos cientistas explicações não só sobre o que há dentro dos cromossomos de um indivíduo como também sugere quais são os genes mais frequentes nas diversas regiões do mundo. Essa informação genética, submetida a pressões ambientais e selecionada pela evolução, é uma das responsáveis pelas características de europeus, americanos ou africanos.

Foi com essas informações que os cientistas descobriram que a tolerância à lactose ou ao álcool resultaram de um importante movimento evolutivo em nossos genes. E que um dos fatores que influi nas diferentes taxas de incidência de doenças crônicas nos continentes é a seleção natural. O último estudo sobre o assunto foi publicado na revista Nature, em julho, mostrando que a seleção de um gene desde a pré-história tem papel central na adaptação dos habitantes do Tibete para viver a mais de 4.000 metros de altitude.

"A evolução é um movimento contínuo e vivemos adaptações e seleção natural recentes", diz Rasmus Nielsen, professor de teoria evolutiva e genética na Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, e um dos autores da pesquisa da Nature.

Para Wade, a consequência lógica desse movimento adaptativo é que a constante pressão evolutiva tornaria esses grupos cada vez mais afastados – constituindo as raças. No entanto, a ciência mostra que esse não é o caminho que a humanidade tomou. "Ao contrário de outras espécies, nossa evolução não se dá isoladamente em diferentes regiões geográficas — algo necessário para a diferenciação em raças, linhagens ou espécies", diz Nielsen. 

Variações pouco significativas — Biologicamente, para que a existência de subespécies ou raças apareça é necessária a separação física da espécie. Assim, o material genético, submetido a pressões evolutivas dos diferentes locais, transforma-se e os grupos se dividem. Isso não aconteceu com os homens. Suas viagens e deslocamentos constantes superaram as barreiras naturais e promoveram uma troca intensa de genes, hábitos e aspectos culturais. Por meio da reprodução, a grande transferência genética entre os indivíduos não impediu o aparecimento de variações, mas evitou que suas diferenças se tornassem tão profundas a ponto de criar novas categorias biológicas. 

"A tendência é que habitantes de diferentes regiões geográficas se tornem, em pouco tempo, geneticamente semelhantes. Nossa propensão, portanto, não é de nos dividirmos em diferentes grupos, mas o oposto", diz Nielsen. "Por isso, a variação genética das populações humanas não é suficiente para validar cientificamente a existência de raças."

Uma das razões para isso é que os humanos não são geneticamente tão variados como outras espécies. Uma pesquisa publicada na revista Science em 1999 mostrou que animais como os chimpanzés possuem sequências genéticas quase quatro vezes mais variadas que os homens — e esses animais são divididos em raças. Para verificar a existência dessas categorias, os biólogos aplicam técnicas matemáticas que medem as diferenças genéticas e separam as classes. Quando o código genético humano é submetido às mesmas regras, não é possível dividi-lo dessa forma.

"Não conseguimos agrupar os homens como os chimpanzés. Nós descendemos de poucos grupos de hominídeos, o que limitou grandes diferenças genéticas", afirma o biólogo evolucionista Ian Rickard, da Universidade Durham, na Inglaterra.

Comportamento genético — Um dos antigos argumentos ressuscitados pelo livro lançado nos Estados Unidos é que a base biológica seria determinante na produção de comportamentos distintos em diferentes regiões do mundo. Dessa maneira, as variações genéticas, centrais para as condutas humanas, teriam um papel importante no desenvolvimento das sociedades e economias, tornando-as desiguais. Algumas poderiam construir culturas sofisticadas — europeias ou asiáticas — enquanto outras estariam destinadas a sociedades mais simples — como as indígenas ou africanas. Cada uma dessas categorias ou raças seria determinada, biologicamente, a um ou outro tipo de vida — o que gera um intenso debate ético na comunidade científica.

"A relação entre variações de comportamentos nas diferentes culturas e as diferenças entre as instituições sociais com base em genética evolutiva ou comportamental é, para dizer o mínimo, fantasia. Não há evidência alguma dessa ligação e ainda não conhecemos seu funcionamento", afirma Rickard.

Isso acontece porque os pesquisadores não sabem quais fatores atuam na equação genética das características complexas. "Sabemos que a genética tem influência forte no comportamento. No entanto, ainda conhecemos muito pouco sobre seu funcionamento para nos tornar capazes de afirmar algo sobre o assunto", afirma a pesquisadora Lygia da Veiga, chefe do Laboratório Nacional de Células-Tronco Embrionárias da Universidade de São Paulo (USP). "A única certeza que temos é que os fatores genéticos não são determinantes nas condutas humanas."

Características diversas — A conclusão mais contundente que os estudos de genética trouxeram aos cientistas nos últimos anos é as diferenças genéticas humanas não são organizadas em classes ou categorias, mas ocorrem em uma escala repleta de variáveis.

"Graças à revolução tecnológica, temos muitas informações quantitativas sobre os genes humanos e percebemos suas variações ocorrem como se fosse um dégradé de características", explica o biólogo Diogo Meyer. "Aplicar a isso a etiqueta de raça restringe nossos estudo, pois faz pensar que há categorias estanques, quando o que se verifica é um contínuo genético."

Assim, o tema proibido dos anos 1980 e 1990 deu lugar ao estudo das variações dessa escala, que estão sendo decifradas pelas pesquisas em genética e evolução. "A intuição de que as populações são diferentes entre si tem fundamento. Há variação genética entre elas, que torna possível estudar suas diferenças, origens e rotas no planeta. E não é preciso ter medo de falar dessa variação", afirma.

Esses estudos são importantes, principalmente, para os testes de medicamentos ou de análises de padrões de evolução de doenças em populações diversas. “Por meio do local de origem é possível ter uma série de informações sobre populações e indivíduos e isso é extremamente produtivo. No entanto, fazer ciência bem feita significa respeitar a realidade e, nesse caso, é perceber que o ser humano é variado, submetido a forças como hábitos ou culturas e não pode ser dividido em classes."

Assim, mais que procurar antigas categorizações humanas, como as propostas há três séculos, os cientistas de hoje preferem trabalhar respeitando a variação intrínseca e característica que forma a espécie humana. "Sim, há pequenas diferenças entre africanos e caucasianos, mas as semelhanças genéticas são muito maiores", afirma o biólogo Stephen Stearns, professor da Universidade Yale, nos Estados Unidos, e um dos principais nomes da biologia evolutiva em todo o mundo. "Há alguma verdade genética no conceito antiquado de raça, mas é um efeito menor, sutil e está longe de ser determinante."

 

82 - Novo avanço do autoritarismo

Saiu no jornal O Estado de S Paulo um interessante artigo sobre o avanço do autoritarismo nos dias de hoje, lembrando o contexto pós-Primeira Guerra Mundial, entre outros momentos da história do século XX.

Os autoritários estão vencendo?  

MICHAEL , IGNATIEFF, THE NEW YORK REVIEW OF BOOKS - O Estado de S.Paulo
20 Julho 2014 | 02h 03

Democracia liberal está em crise e precisa de reformas para vencer a luta desigual travada contra as novas formas de autoritarismo

Nos anos 30, viajantes voltavam da Itália de Mussolini, da Rússia de Stalin e da Alemanha de Hitler elogiando o sentimento de interesse comum que viram, em comparação com suas democracias, que pareciam fracas e ineficientes. Hoje, as democracias vivem um período parecido de inveja e desânimo.


Seus rivais autoritários irradiam confiança. Nos anos 40, ocidentais iam à Rússia para admirar as estações do metrô de Moscou. Hoje, vão à China para tomar o trem-bala de Pequim a Xangai e voltam se perguntando por que as autocracias conseguem construir ferrovias enquanto as democracias levam 40 anos para decidir que não podem nem sequer começar.

Pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, o avanço do constitucionalismo democrático parou. Para cada Estado africano onde as instituições democráticas estão firmes, há um em que a democracia agoniza. No México e na Colômbia, a democracia é ameaçada pela violência, enquanto a Argentina luta para se livrar do peso morto do peronismo. No Brasil, os milhões que protestaram em 2013 não mudaram o clientelismo em Brasília. No Oriente Médio, a democracia teve um ponto de partida na Tunísia, mas na Síria prevalece o caos, no Egito impera o autoritarismo e nas monarquias, o absolutismo está em ascensão.

Na Europa, as elites insistem que o remédio para as mazelas do continente é mais integração, enquanto um terço do eleitorado diz que quer menos. Da Hungria à Holanda, a direita antieuropeia ganha terreno. Na Rússia, o momento democrático dos anos 90 parece tão distante quanto o breve interlúdio constitucional, entre 1905 e 1914, sob o czar.

O recente aperto de mão entre Vladimir Putin e Xi Jinping celebrou mais do que um acordo sobre gás. Ele anunciou o surgimento de uma aliança de Estados autoritários com uma população combinada de 1,6 bilhão no vasto espaço eurasiano que se estende da fronteira polonesa ao Pacífico, do Ártico ao Afeganistão.

Essa zona inclui Estados clientes recalcitrantes, como a Coreia do Norte, e despotismos patriarcais, como as repúblicas muçulmanas da ex-União Soviética. Inclui também súditos menos cordatos, como Geórgia, Armênia e Moldávia, cujo povo quer a democracia, mas ouve de seus líderes autoritários para deixarem seus sonhos de lado. É na Ucrânia, porém, que a batalha por influência é travada entre as democracias desmoralizadas do Ocidente e o arquipélago autoritário. Se o país for impedido de escolher seu caminho, alguns Estados que margeiam a Rússia também serão impedidos de fazê-lo.

O conflito entre autoritarismo e democracia não é uma nova Guerra Fria, dizem, porque os novos autoritários não têm uma ideologia expansionista como o comunismo. Isto não é verdade. O comunismos pode ter acabado como sistema econômico, mas como modelo de dominação do Estado ele está muito vivo na China e no Estado policial de Putin.

Não falta a esse novo autoritarismo uma estratégia econômica. Seu objetivo é uma forma familiar de modernização que aproveita os benefícios da globalização sem sacrificar o controle político e ideológico sobre suas populações. Seu modelo econômico é o capitalismo de Estado fixador de preços e seu sistema legal é o governo (em geral corrupto) por decretos. Sua ética rejeita o universalismo moral em favor da alegação de que as civilizações antigas são mundos morais autossuficientes. A perseguição a gays, portanto, não é um excesso passageiro, mas é intrínseca a suas visões de si mesmas como baluartes contra o individualismo ocidental.

As visões estratégicas de Rússia e China podem derivar de experiências históricas diferentes, mas as mensagens que elas extraem de suas histórias são parecidas. Ambas se apoiam nas humilhações que sofreram nas mãos do Ocidente e não aceitam a democracia liberal como modelo. Ambas insistem que sua experiência de revolução no século 20 pedia um regime centralizado com punho de ferro.

As variantes chinesa e russa de modernização autoritária se apoiam em recursos diferentes. Os dois países continuam sendo competidores geoestratégicos, mas ambos veem boas razões para alinhar seus interesses de médio prazo: as duas votam juntas no Conselho de Segurança, perseguem dissidentes e apoiam a ditadura da Síria.

Os novos autoritarismos oferecem às elites da África e da Eurásia um caminho alternativo para o desenvolvimento: crescimento sem democracia e progresso sem liberdade. Este é o canto de sereia que algumas elites políticas africanas, latino-americanas e asiáticas querem ouvir.

Diante desses autoritários, os EUA oferecem um exemplo desanimador. Durante dois séculos, seu mecanismo constitucional foi admirado. Agora, nas mãos de políticos polarizadores, ele causa paralisia. Os admiradores dos EUA aceitam que o dinheiro pese na política de Washington, mas sua justificativa ideológica é perversa.

Para cidadãos de outras democracias liberais, a doutrina da Suprema Corte de que o dinheiro em política merece as proteções concedidas à liberdade de expressão parece uma insanidade doutrinária. Para outros democratas, ele é poder puro e simples - e não expressão - e precisa ser controlado para os cidadão continuarem livres.

É difícil defender a democracia liberal com muito entusiasmo no exterior quando ela funciona tão precariamente em casa. Esse pensamento levou Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations, a defender no artigo Foreign Policy Begins at Home que os EUA precisam pôr sua própria casa em ordem antes de promover seus valores e instituições no exterior.

Colocar as finanças públicas sob controle, reformar leis eleitorais, investir em educação são um chamado à ação. No entanto, tudo isso parece uma possibilidade remota no clima de hostilidade partidária vigente. A democracia só pode funcionar se a política for conduzida entre adversários. Neste momento, a Constituição dos EUA é bloqueada por uma política de inimigos.

Para Barry Posen, cientista político do MIT, o problema americano não é a disfunção democrática em casa, mas sua extensão para fora. Segundo ele, os EUA mergulharam em guerras que não deveriam ser travadas e promoveram objetivos, como diretos humanos, democracia e construção nacional, que não poderiam realizar.

Ao gastarem mais em defesa, permitiram a vida mansa de aliados europeus e uma "direção arriscada", sobretudo a construção de assentamentos por Israel. Se os EUA cortarem seus gastos em defesa, segundo Posen, poderão obrigar seus aliados a se defenderem e liberar US$ 75 bilhões por ano para gastar na reconstrução do país. Essa é uma recomendação surpreendente vindo de um realista conservador, mas indica o quanto a crítica dos gastos militares une conservadores e progressistas. Os dois extremos do espectro político estão convergindo para a "contenção" como princípio organizador.

Contenção significa triagem. Significa racionalizar o uso de forças militares para proteger os interesses vitais: ficar fora de guerras ou desastres humanitários de outros povos; recusar-se a promover democracia ou direitos humanos em lugares onde eles não criarão raízes; obrigar aliados a arcar mais com o fardo de sua própria defesa; e desistir de moldar os bens públicos globais e a ordem pública global.

O recente discurso do presidente Barack Obama em West Point sugere que ele está dando ouvidos a uma nova doutrina de contenção. Ele ainda dá crédito à promoção de direitos humanos e à democracia, mas o verdadeiro foco de sua política externa é trazer os soldados para casa e se concentrar na construção nacional.

A contenção capta um sentimento, tanto em conservadores como em progressistas, de que os EUA já não têm o poder de moldar a ordem mundial como faziam. Em particular, eles não podem mais se imaginar como a democracia de vanguarda de uma ordem global de democracias em progresso. Esse é o cenário desanimador no qual o editor-chefe da revista britânica The Economist, John Micklethwait, e seu editor-gerente, Adrian Wooldridge, criaram The Fourth Revolution, um relato da ascensão do Estado em cinco séculos e a luta atual da democracia contra seus competidores autoritários.

Eles criticam a incompetência do Estado moderno: "O Estado sobrecarregado é uma ameaça à democracia: quanto mais responsabilidades o Leviatã assume, pior ele as desempenha e mais contrariado o povo fica - o que só o faz pedir ainda mais ajuda." Eles defendem que a única maneira de uma democracia liberal responder ao desafio autoritário de fora e a crescente insatisfação de dentro, é o Estado encolher, fazer menos, mas fazer melhor.

Em 50 páginas, os autores conduzem o leitor por três revoluções: a absolutista, de 1650, que tinha Thomas Hobbes como principal ideólogo; a versão constitucional liberal, com John Stuart Mill; e o Estado de bem-estar, criado por Beatrice e Sydney Webb, socialistas fabianos britânicos.

Ronald Reagan e Margaret Thatcher chegaram ao poder prometendo uma quarta revolução para domar o Leviatã, mas não conseguiram desmantelar o Estado de bem-estar social. Os conservadores descobriram que as expectativas e direitos que os Estados modernos atendem são resistentes a mudanças. Muitos republicanos do Tea Party abandonariam sua panaceia libertária num segundo se ela produzisse cortes em seus programas sociais.

Os políticos dos dois lados do espectro estarão realmente tomando medidas para tornar o Estado mais justo e eficiente? Os editores da Economist encontram alguns heróis democráticos aqui e ali, principalmente prefeitos de cidades grandes tentando tornar o governo mais eficiente, mas, em geral, pintam um quadro crítico de disfunção democrática em nível nacional.

Quando conservadores vencem eleições, interesses corporativos assumem o controle. Quando progressistas recuperam o poder, tornam o Estado mais dominador. Quando conservadores voltam ao cargo, eles cortam. E assim vai, uma dinâmica contínua que deixa o Estado sem reformas e cada vez mais intrusivo. Ambos os lados querem proteger a liberdade dos cidadãos, mas aumentam os poderes de vigilância do Estado.

Maltratado por essa alternância fútil, o Estado liberal está cada vez menos liberal e incapaz de controlar os interesses que deveria regular. Seus sistemas fiscal e previdenciário são tão distorcidos por interesses que perderam a capacidade de redistribuir. Longe de reduzir a desigualdade, o Estado moderno agrava o problema.

A despeito de todas as críticas ao Leviatã, os autores não têm paciência para as fantasias libertárias sobre o seu desmantelamento. O Estado poderoso veio a ser a invenção fundamental do Ocidente. A China imperial também teve um Leviatã, mas ele criou ordem enquanto sufocava a invenção. O Estado ocidental foi único no sentido de que proveu uma ordem coercitiva sem suprimir a criatividade individual.

A conquista do Ocidente, a que tornou todos os outros sucessos possíveis, foi a governança limitada pelos direitos individuais em que o poder era fiscalizado por um Judiciário independente, imprensa livre, parlamentos e Estado de direito. Para reviver o Estado liberal, os editores da Economist recomendam aos democratas que aprendam com os autoritários. Por isso, foram a Cingapura aprender como o corte de direitos e a redução de impostos impediu os pobres de caírem na rede de segurança. Voaram até Pequim para aprender como o Partido Comunista adaptou a tradição imperial e criou uma burocracia eficiente.

O fato de Cingapura e Xangai serem mais bem governadas do que Detroit e Los Angeles não é novidade. A questão é se a governança autoritária é sustentável diante das demandas da classe média de ser tratada como cidadã e se tal governança é capaz de lidar com choques radicais, como uma recessão econômica prolongada.

O arquipélago autoritário é arrogante, mas é frágil: ele precisa controlar tudo ou não controlará nada. A graça salvadora da democracia é sua adaptabilidade. Ela depende da insatisfação para sua vitalidade. A insatisfação leva à mudança pacífica de regime e, à medida que eles mudam, as sociedades livres descartam as alterativas fracassadas.

A adaptabilidade da democracia será testada na Índia, onde Narendra Modi recebeu um mandato para reformar o corrompido Estado gandhiano. Em jogo está a questão central: a democracia conseguirá competir com a modernização autoritária da China? Xi tem uma campanha anticorrupção em curso e tenta reduzir o controle do Estado sobre a economia. Quem será mais bem-sucedido, ele ou Modi?

Micklethwait e Wooldridge resistem ao lustro duro da modernização autoritária, mas pedem uma quarta revolução que retorne ao governo limitado da era vitoriana. Eles querem que as democracias simplifiquem seus sistemas fiscais, reduzam a carga tributária, que o mercado se livre de regulamentos para que siga com seu trabalho de destruição criativa. Mas querem também regular o capitalismo para que o poder do dinheiro seja controlado. Os detalhes são vagos, mas a direção é clara.

Ao focar em inovação de governo, Micklethwait e Wooldridge supõem que o problema seja melhorar a eficiência do governo. O que é necessário, porém, é o retorno à própria democracia constitucional, a tribunais e órgãos reguladores que sejam imunes ao poder do dinheiro e à influência dos poderosos, legislativos que parem de ser circos e voltem a prestar contas ao público.

Os editores da Economist querem pôr o Estado liberal numa dieta de inanição. Seu diagnóstico identifica os sintomas, mas, se for aplicado como remédio, pode matar o paciente. O problema precisa ser compreendido de maneira diferente. O Estado moderno pode ser grande em algumas áreas, mas em muitos Estados liberais, governos bem administrados estão patinando por falta de recursos para prover serviços valiosos e necessários aos cidadãos.

Os editores da Economist não oferecem uma análise real dos problemas dos recursos do Estado moderno, como a crise fiscal. Uma análise polêmica, mas persuasiva, pode ser encontrada no artigo de Joseph Stiglitz para o Roosevelt Institute. ELE argumenta que a crise fiscal do Estado liberal deve ser atribuída a três fenômenos entrelaçados: aumento da desigualdade de renda, poder do dinheiro na política e sistêmica evasão fiscal dos super-ricos e das corporações globalizadas.

À medida que a desigualdade aumenta, ela suprime a demanda efetiva. Sociedades desiguais acumulam riqueza na ponta superior, em vez de espalhar consumo e investimento por uma ampla classe média. Enquanto a desigualdade susta a demanda, corporações sentam sobre o dinheiro sem disposição de investir ou consumir. À medida que os ricos se tornam mais engenhosos na evasão fiscal, o custo de carregar o Estado liberal recai em uma classe média forçada a arcar sozinha com o fardo. É a desigualdade que sufoca a demanda e mata o Estado liberal.

A solução de Stiglitz é abrangente. Ele propõe uma alíquota de imposto de renda de 40% para os que controlam os 25% superiores da renda nacional; seguida por uma alíquota de 20% para os que detém os 25% seguintes, com deduções fiscais para todos dos 50% inferiores. Ele também propõe "uma combinação de alíquotas fiscais e incentivos ao investimento" que imporia um imposto de 15% sobre lucros corporativos e um imposto sobre o consumo de 5%.

Essa nova estrutura fiscal elevaria em 26% a captação pelo Estado da renda nacional. Essas medidas, ele calcula, resolveriam a crise fiscal do Estado liberal, moderariam a desigualdade e estimulariam o crescimento, pois o Estado gastaria riqueza hoje retida em contas bancárias corporativas - algumas no exterior - e poupanças privadas.

Sua análise identifica o problema do Estado moderno mais claramente do que os editores da Economist. O Estado liberal está em crise porque suas instituições regulatórias, legais e políticas foram capturadas ou sitiadas pelos interesses econômicos que elas deveriam controlar.

Apesar de o Estado liberal não ter surgido com a intenção de aplicar uma igualdade distributiva, ele deveria impedir que o poder do dinheiro sufocasse a competição e corrompesse o sistema político. Essa é a tarefa que ele se esforça para realizar hoje e precisa recuperar a confiança e apoio de seus cidadãos.

Não há nada de novo no desafio. As desigualdades ameaçam a igualdade política sem a qual o Estado liberal não pode funcionar. Reiteradamente, os defensores do Estado liberal na era progressista, no New Deal e no Estado de bem-estar europeu responderam ao desafio e restauraram o Estado como garantidor da ordem e da liberdade da sociedade de mercado.

Em um ponto Micklethwait e Wooldridge estão certos: o gênio do Ocidente está em sua invenção de direitos que respeitam o governo limitado, com base na confiança das pessoas comuns. Foi esse conjunto de instituições que nos fez o que um dia fomos e, se restaurarmos seu vigor, poderemos ser novamente um dia. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

É PROFESSOR DA HARVARD

KENNEDY SCHOOL

81 - Livros sobre a Primeira Guerra Mundial (outras análises)

Mais comentários de livros sobre a Primeira Guerra Mundial. Saiu na Folha de São Paulo de hoje (20 de julho):

A primeira guerra total

Há cem anos começava o conflito até hoje nebuloso
 
MARCELO COELHO

RESUMO A responsabilidade russa, as atrocidades do exército prussiano sobre os belgas, o assassinato do arquiduque e o jogo político na Europa são alguns dos temas explorados em diversos livros recentes que investigam a Primeira Guerra, conflito que, cem anos depois de seu início, permanece ainda pouco investigado.
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Ao contrário da Segunda Guerra Mundial --que se explica pelo nazismo--, tudo é obscuro e controverso no conflito que foi de 1914 a 1918. A morte de ao menos 10 milhões de pessoas naqueles quatro anos parece ter sido um sacrifício inútil, causado não se sabe exatamente por que razão.
Os resumos de escola se contentam em mencionar o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, como o "estopim" da Primeira Guerra --que, em seguida, é desqualificada como um confronto entre potências imperialistas (França, Inglaterra, Rússia e, posteriormente, Itália e Estados Unidos de um lado; Alemanha, Império Austro-Húngaro e Império Otomano de outro).
Sem despertar maiores torcidas no plano moral, o interesse pela Primeira Guerra termina diminuído na comparação com a luta dos Aliados contra Hitler e Mussolini; a complicadíssima crise de 1914 pode ser fascinante, mas tende a atrair sobretudo os fanáticos pelos jogos de geopolítica e pelas teorias das relações internacionais.
Vários livros vão sendo editados no Brasil por ocasião do centenário da Primeira Guerra, e podem mudar bastante essa percepção.
Nenhum dos que serão comentados neste texto consegue superar "Os Canhões de Agosto", clássico de Barbara Tuchman publicado nos Estados Unidos em 1962 e com tradução brasileira esgotada há bastante tempo. É que, ao contrário das interpretações correntes, a historiadora americana (1912-1989) não temeu os julgamentos morais --em seu livro, condena claramente a Alemanha--, sem sacrificar por isso a precisão e o ritmo fulgurantes da narrativa.
Mesmo que seu ponto de vista se revele contestável à luz de pesquisas mais recentes --como a de Sean McMeekin, no ainda não traduzido "July 1914" [Perseus, R$ 72,30, 464 págs.; disponível também em e-books], que aponta para a responsabilidade russa na crise--, o livro de Barbara Tuchman é o melhor "estopim" emocional para quem quiser se envolver nas discussões sobre o conflito.
MILITARISMO Ainda que todos os participantes da Primeira Guerra tenham promovido atos hediondos --com monumental destaque para o genocídio armênio, que deixou pelo menos 1 milhão de mortos, empreendido pelos turcos a partir de 1915--, mesmo antes de Hitler o militarismo prussiano acumula um currículo com o qual é difícil rivalizar.
Os alemães foram os primeiros a utilizar gás venenoso na guerra, na segunda batalha de Ypres, em 1915. Antes disso, os franceses se limitaram ao gás lacrimogêneo. Logo os combatentes trataram de se proteger com máscaras de diversos tipos. Ao cloro letal, capaz de corroer o tecido dos pulmões, a tecnologia alemã acrescentou então o gás mostarda, que atua diretamente sobre a pele.
Veio dos alemães a decisão de usar submarinos (indetectáveis à época) para atacar não só navios militares como também navios mercantes, a partir de outubro de 1914, e também transatlânticos de passageiros, como o britânico Lusitania, em maio de 1915. O navio afundou em menos de 20 minutos, matando perto de 1.200 civis.
Foram também os primeiros, na Grande Guerra, a lançar ataques aéreos contra a população urbana. Em agosto de 1914, nove habitantes da cidade belga de Liège foram mortos por bombas jogadas de um zepelim. Inicialmente vetados pelo kaiser, os bombardeios contra Londres viriam no começo de 1915.
Numa incursão inútil ao litoral britânico, o almirante Von Hipper explodiu casas de veraneio e edifícios públicos em dezembro de 1914. Era o conceito de "guerra total", ou "absoluta", que se impunha sobre as populações europeias (embora tivesse precedentes mais antigos). Não mais se acreditava que um conflito entre países dependesse só de batalhas entre soldados; tratava-se de destruir todos os recursos econômicos, humanos e morais do adversário.
ATROCIDADES Nenhuma dessas iniciativas alemãs teve efeito comparável, na opinião pública mundial, ao das famosas "atrocidades" (o termo virou um lugar-comum) cometidas na Bélgica logo nos primeiros dias da guerra.
Era tão grande a autoconfiança da máquina militar prussiana que os invasores nem sequer cogitavam uma possível resistência do pequeno país neutro. Os planos alemães previam passar pela Bélgica rapidamente, de modo a atacar a França pelo norte, evitando a linha de fortificações que protegia a fronteira leste francesa.
Não se teve ideia melhor do que redigir um ultimato à Bélgica --que não tinha nada a ver com o que acontecia do outro lado da Europa, entre russos, sérvios, austríacos e alemães. O pequeno país do rei Alberto 1º tinha sua neutralidade garantida por um tratado internacional assinado em 1839, pela Prússia inclusive.
O tratado? "Só um pedaço de papel", na frase famosa do ministro alemão das Relações Exteriores, Theobald von Bethmann-Hollweg. Para assegurar a marcha até Paris, ele expediu uma carta aos belgas, prometendo não atacá-los e pagar por eventuais prejuízos, caso franqueassem suas fronteiras às tropas alemãs.
Já em 1904, o kaiser Guilherme 2º acenara com ganhos territoriais para a Bélgica, em caso de derrota dos franceses. De modo tipicamente descalibrado --para dizer o menos--, prometera também a "coroa da Borgonha" ao soberano belga.
Preferindo resistir a anular-se como país independente, a Bélgica logo enfrentaria uma impiedosa devastação. Os alemães não duvidavam da própria superioridade militar, mas temiam a reação de franco-atiradores.
Em "Catástrofe - 1914: A Europa vai à Guerra" [trad. Berilo Vargas, Intrínseca, R$ 49,90, 704 págs.; R$ 29,90, e-book], do jornalista e historiador britânico Max Hastings, 68, alinham-se exemplos chocantes das retaliações do exército do "kaiser" sobre a população belga.
Trata-se de um dos raros livros recentes a insistir na tese da culpa alemã, tese essa que teve seu auge na década de 1960 com as pesquisas do germaníssimo (e ex-nazista) Fritz Fischer (1908-1999), da Universidade de Hamburgo.
Hastings conta que, em 5 de agosto de 1914 (dois dias depois de a Alemanha declarar guerra à França), dez moradores de uma aldeia belga, incluindo uma família de cinco pessoas, foram assassinados em resposta à morte de soldados alemães. Os 118 habitantes da vila de Soumagne foram mortos com tiros ou golpes de baioneta no dia seguinte.
Os alemães avançaram até Liège: em 8 de agosto, como punição por atos de resistência, 850 civis foram executados, e 1.300 casas, destruídas pelo fogo.
O pior aconteceria em Louvain, também na Bélgica, em 25 de agosto. Um incêndio acidental colocou os alemães em polvorosa. Invadiram casas, arrastaram moradores para a rua, espancaram-nos, fuzilaram-nos, e tiveram a ideia de incendiar uma das mais valiosas bibliotecas da Europa, com 300 mil volumes. Em seguida, impediram os bombeiros de agir, destruíram 2.000 edifícios e expulsaram 10 mil habitantes de suas casas, deportando 1.500 para a Alemanha.
Casos semelhantes fazem parte, hoje em dia, da rotina de qualquer guerra; na época, justificaram plenamente a imagem dos alemães como "bárbaros", ou "hunos", no vocabulário da propaganda britânica. Contra os 6.427 civis mortos pelos alemães em 1914, segundo Hastings, contam-se apenas 101 vítimas da população alemã na invasão russa da Prússia Oriental, no mesmo ano.
O que explica tanto furor guerreiro? Hastings cita o texto de um polemista alemão em 1913, segundo o qual "a destruição impiedosa das forças inimigas é o objetivo mais humano que se possa ter, por estranho que pareça". Havendo muita consideração pelo adversário, a guerra se prolongaria demais, com prejuízo para todos.
PERSPECTIVAS Para encontrar perspectivas menos desfavoráveis aos alemães, é preciso fechar os livros de Barbara Tuchman e Max Hastings, cuja argumentação viemos seguindo até agora.
"Os Sonâmbulos" [trad. Laura Teixeira Motta e Berilo Vargas, Companhia das Letras, R$ 69,50, 704 págs.; R$ 39,50, e-book], do britânico Christopher Clark, tem vários pontos de superioridade sobre "Catástrofe". Concentra-se sobre os antecedentes históricos da Primeira Guerra, traçando com nitidez e verve a situação política, para lá de confusa, dos países envolvidos no conflito.
Enquanto Hastings é sobretudo um historiador militar da velha guarda, apressando a narrativa da crise diplomática de julho de 1914 para contar em pormenor as batalhas travadas ao longo daquele ano, Clark ilumina a sequência de improbabilidades, cálculos errados e tensões involuntárias que iria desencadear o conflito.
Evita o "jogo da culpabilização", ou "blame game", sempre tentador num desastre de tais dimensões. "A Grande Guerra foi uma tragédia, não um crime", afirma na conclusão.
CRIME BÁRBARO Seja como for, o livro de Clark começa com um crime bárbaro e repugnante. Não se trata, ainda, do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando e de sua mulher. Para uma descrição sensacional do atentado, a melhor leitura em português está em "O Assassinato do Arquiduque: Sarajevo, 1914, e o Romance que Mudou o Mundo" [trad. Gilson César Cardoso de Souza, Cultrix, R$ 52, 400 págs.], de Greg King e Sue Woolmans.
Mas o crime a que Clark se refere ocorreu em Belgrado, 11 anos antes. O rei Alexandre e a rainha Draga são acordados no meio da noite; é uma conspiração militar. Estão protegidos, nos aposentos reais, por uma pesada porta de carvalho --que uma carga de dinamite põe abaixo. O casal se esconde na rouparia.
Em outras partes de Belgrado, o massacre toma livre curso; dois irmãos da rainha são apunhalados, o primeiro-ministro e o ministro da Guerra são executados à queima-roupa. Por fim, o rei e a rainha serão encontrados, mortos e esquartejados. Era o fim da dinastia dos Obrenovic, notável pela brutalidade.
Toma conta do reino o representante da dinastia rival, de currículo não menos apavorante, mas seguindo um ideário supostamente liberalizante --e, principalmente, expansionista. Numa região pulverizada em pequenas nacionalidades, tentando emergir entre os destroços de dois impérios (o Otomano e o Austro-Húngaro), ganhava força o lema segundo o qual "onde há um sérvio, lá é a Sérvia".
O grupo que toma o poder após o assassinato de Alexandre e Draga tem apoio da Rússia, motivada não só por questões de identidade étnica --eram todos "eslavos"-- mas também pelo afã de garantir o enfraquecimento de turcos e austríacos numa área de importância geopolítica fundamental até hoje. A saber, o lado oriental do Mediterrâneo e sua ligação com o mar Negro, capaz de prover a Rússia de portos incomparavelmente mais convenientes do que as águas geladas do norte europeu.
Os assassinos de 1903, em especial o famigerado Dragutin Dimitrijevic, o Apis (chefe da organização secreta Mão Negra e também responsável pelo serviço de inteligência do Exército sérvio) dariam inspiração e recursos para que o jovem Gavrilo Princip, nascido na Bósnia, mas de origem sérvia, disparasse os tiros de Sarajevo.
Do ponto de vista de hoje, marcado pelos atentados do 11 de Setembro, não chega a ser surpreendente que os austríacos tenham desejado reagir militarmente contra a Sérvia, cuja organização governamental estava implicada claramente em atos terroristas.
Com notável isenção, Clark lembra que não deixavam de ser legítimos os interesses da Sérvia em aumentar seu raio de independência, em meio a minorias nacionais sob o jugo dos austríacos.
TORRE DE BABEL O regime do velhíssimo imperador Francisco José errou catastroficamente ao pretender punir a Sérvia. Seu Exército, uma torre de Babel de nacionalidades que mal e mal improvisaram um mínimo idioma alemão em comum, vinha acumulando derrotas durante todo o século anterior. Enquanto isso, a Rússia se armava e se modernizava, com entusiasmada assistência francesa.
Uma ação austro-húngara contra a Sérvia previsivelmente desencadearia uma represália russa. Sabendo disso, os austríacos enviaram à corte do kaiser, no começo de julho, uma missão encarregada de avaliar o apoio dos alemães à pretendida missão punitiva.
Obteve da Alemanha o famoso "cheque em branco", garantindo, nos termos da aliança entre os dois países, sustentação militar à invasão da Sérvia. Guilherme 2º esperava que os austríacos empreendessem uma "blitzkrieg" contra Belgrado, coisa que eles não estavam preparados para fazer. Grande parte do Exército, composto de camponeses, se preparava para a colheita do verão; quanto à metade húngara do sistema político dual do império, eram imensas as resistências a entrar em guerra.
Clark, assim como faz Sean McMeekin em sua reconstituição, dia por dia, dos mal-entendidos e hesitações da crise, é excelente ao demonstrar que, dentro de cada país e dentro do espírito de cada uma das principais lideranças políticas, nada existia de unívoco.
O kaiser tinha, com certeza, alguns parafusos a menos. Após um concerto, pegava o maestro pelo braço e lhe ministrava lições de música. Após receber um título puramente honorífico da Marinha britânica (era neto da rainha Vitória), começou a pedir informações e dar palpites sobre a organização do poderio naval alheio.
"Os Três Imperadores" [trad. Clóvis Marques, Objetiva, R$ 57,90, 600 págs.; R$ 29,90, e-book], da britânica Miranda Carter, faz a biografia conjunta, com algum excesso de fofocas familiares, dos primos George 5º (Inglaterra), Nicolau 2º (Rússia) e Guilherme 2º (Alemanha).
No plano puramente estratégico, o soberano alemão tinha sempre uma proposta absurda: numa crise entre EUA e Japão, por exemplo, ofereceu ao presidente americano um destacamento militar para guardar a costa californiana.
Enquanto os austríacos não invadiam a Sérvia, o medo passou a tomar conta de Guilherme 2º; cada dia de atraso tornava mais provável a mobilização russa em favor do pequeno país eslavo.
Por que não desistir, então?
Bem que o kaiser tentou, assim como Nicolau 2º do lado russo, mas a crise acabou chegando a um ponto em que a técnica (e os desejos) puramente militares tornavam difícil recuar.
A diplomacia significava cada vez menos. É difícil, apesar das argumentações de Clark e de McMeekin, crer na sinceridade dos esforços, ou na acidentalidade dos erros, de um personagem como Bethmann-Hollweg, ministro das Relações Exteriores alemão. Cada passo inexplicável da diplomacia alemã pode ser visto como falha profissional mas também como aposta no caminho de fazer a Rússia, e não a Alemanha, surgir como responsável pela beligerância.
"MYGOTOVY!" Sem dúvida, a violência com que a Alemanha desencadeou o ataque à Bélgica e à França só se justifica, do ponto de vista subjetivo, pelo fato de que se sentia efetivamente acuada por inimigos a ponto de querer destruí-los.
A teoria de que a Alemanha estava "cercada" e que só desejava "um lugar ao sol" ganha argumentos no livro de Clark e, mais ainda, em "O Horror da Guerra" [trad. Janaína Marcoantonio, Planeta, R$ 89,90, 768 págs.], do escocês Niall Ferguson, pelo fato de que repetidas vezes a Inglaterra vetou empreendimentos comerciais alemães no Oriente e na África.
É mais fácil ver, por outro lado, o que a França teria a ganhar na eventualidade de uma guerra (tratava-se de recuperar as regiões da Alsácia e da Lorena, perdidas para Bismarck em 1870), do que os benefícios à Alemanha. Se a Rússia quisesse entrar em guerra com Alemanha e Áustria em função de algum conflito balcânico, disse famosamente o francês Poincaré em 1912, "estamos prontos" a ajudar. Falou em russo: "Mygotovy!"
A certeza de que a Rússia, com ajuda francesa, militarizava-se cada vez mais foi um importante fator para o pensamento militar germânico. Melhor entrar em guerra agora do que mais tarde, raciocinava Moltke, o chefe do Estado-Maior alemão.
Ele sabia que a guerra europeia, nas condições modernas, seria prolongada e destrutiva (ao contrário, seu equivalente francês, Joffre, apostava em cargas de cavalaria e baionetas no estilo napoleônico). Mesmo representando o "fim da civilização", era uma realidade que teria de ser encarada.
Trata-se de um bom exemplo daquele "pensamento trágico" tão ao gosto dos conservadores --de qualquer país, aliás. O debate sobre as responsabilidades de cada um no morticínio é interminável. A bibliografia, mesmo em português, não cessa de aumentar.
"Os Sonâmbulos", de Clark, é o melhor da atual safra. "O Horror da Guerra", de Ferguson, formula as perguntas cruciais sobre a guerra em seu conjunto (por que as pessoas lutavam? Houve entusiasmo da população? Que país era o mais militarista?), mas peca por certa extravagância nas respostas, com marcada antipatia pela posição inglesa no conflito. O excesso de estatísticas e notas torna mais trabalhosa, ademais, sua leitura.
"Catástrofe", de Max Hastings, combina história diplomática, narrativa militar e depoimentos de soldados e civis para traçar um quadro do primeiro ano do conflito, atento à voga da "história do cotidiano", à técnica militar e à tendência recente de enfocar o desenvolvimento dos conflitos nas decisões individuais de seus protagonistas. O resultado é que o texto, apesar de muito claro, parece oscilar entre essas três perspectivas.
A vida nas trincheiras e nas regiões assoladas pelo conflito é tratada de forma engenhosa em outro livro, "A Beleza e a Dor" [trad. Fernanda Sarmatz Åkesson, Companhia das Letras, R$ 62, 520 págs.], do sueco Peter Englund, que entrelaça histórias reais de pessoas de várias nacionalidades durante aqueles anos.
Como texto de referência, algo como um verbete de enciclopédia bastante estendido, há ainda "A Primeira Guerra Mundial" [trad. Roberto Cataldo Costa, Contexto, R$ 69,90, 560 págs.], de Lawrence Sondhaus. Até o final deste ano do centenário da Grande Guerra, certamente mais coisa será lançada nesse horizonte, já tão cheio de clarões e de fumaça.

sábado, 21 de junho de 2014

80 - Livros sobre a primeira Guerra Mundial


No The Wall Street Journal, o historiador Gary D. Sheffield analisa os seguintes livros sobre as origens da guerra de 1914:

 

The Month That Changed the World: July 1914, de Gordon Martel. Oxford University Press, 512 pages, $39.95

 

July Crisis: The World's Descent Into War, Summer 1914, de T.G. Otte. Cambridge University Press, 530 pages, $29.99

 

The Outbreak of the First World War: Structure, Politics, and Decision-Making, de Jack S. Levy and John A. Vasquez. Cambridge University Press, 305 pages, $34.99

 

A Mad Catastrophe: The Outbreak of World War I and the Collapse of the Habsburg Empire, de Geoffrey Wawro. Basic Books, 440 pages, $29.99

 

Dos quatro, só li o terceiro ("The Outbreak of the First World War"). Recomendo esse livro, que reúne ensaios de nove estudiosos, especialmente para os que, além de História, pretendem cursar, estão cursando e já cursaram Relações Internacionais. Gostei muito das análises sobre a guerra preventiva (quem é meu aluno do Terceiro Ano sabe do que estou falando).

 

Seguem as análises de Sheffield, em inglês. No final, ele sugere outros livros

 

BOOK REVIEW: THE WORLD WAR I BLAME GAME

 

A minor incident in the Balkans escalated into a global cataclysm—was it an accident or a crime?

 

By  Gary D. Sheffield

Was anyone responsible for the outbreak of World War I? The victorious powers of 1918 certainly thought so. The "war guilt clause" of the Treaty of Versailles blamed the conflict on "the aggression of Germany and her allies."

Yet within a few years, the allocation of guilt had gone out of fashion. In 1929, the American historian Sidney B. Fay, after an exhaustive study of the available documentation, stated: "No one country and no one man was solely, or probably even mainly, to blame." Fay's view was supported by the testimony of David Lloyd George, who had been intimately involved in the "July Crisis" and served as British prime minister in the second half of the war. In his memoirs, Lloyd George argued that the war had been a tragic accident. Following the assassination on June 28, 1914, in Sarajevo of Archduke Franz Ferdinand, heir to the Austro-Hungarian throne, "nobody wanted war," he wrote, but European governments had "slithered over the brink."

Such views capture the zeitgeist of the interwar years. Surveying the wreckage, it was all too easy to wonder if nearly 10 million men had died unnecessarily. As the world neared and then plunged into a second, even greater, conflict, the 1914-18 war appeared futile indeed. It was judged to have been allowed to escalate from a minor incident in the Balkans into a global cataclysm and blamed on international alliances, militarism, unscrupulous arms merchants, and blundering politicians and diplomats.

This consensus was broken in 1961 by the German historian Fritz Fischer. The uncompromising German title of his first book set out his stall; World War I was caused by "Germany's Grab for World Power" (Griff nach der Weltmacht, translated into milder English as "Germany's Aims in the First World War"). Fischer pointed to the "War Council" of Dec. 8, 1912, where Wilhelm II and his inner circle had decided to go to war 18 months later. The assassination in Sarajevo was just an opportunity to precipitate their plans. Fischer's most explosive discovery was the 1914 "September program" that set out extensive territorial annexations to cement Germany's domination of the continent. He highlighted clear continuities between the foreign policies of Kaiser Wilhelm and of Hitler. Many Germans struggling to come to terms with World War II had turned to the Kaiserreich as the true, decent Germany. For such people, Fischer's claims, as he admitted, were "nothing short of treason."

Fischer's thesis, though often modified, became the new orthodoxy, and only very recently has a serious challenge appeared. In 2012, the Cambridge-based historian Christopher Clark published "The Sleepwalkers: How Europe Went to War in 1914." He argued strongly against the allocation of blame for the outbreak of the war. In his view, all the major actors played a role: "Viewed in this light, the outbreak of war was a tragedy, not a crime." In Germany, the book became a best seller. Germans, it seems, appreciate a foreigner—Mr. Clark is Australian—telling them that their country cannot be blamed for launching the first of the world wars. Margaret MacMillan, an Oxford-based historian, was also equivocal about apportioning the "blame" for the war in her 600-page "The War That Ended Peace" (2013). This return to the "no one or everyone was to blame" stance of the 1920s and '30s easily leads to the view that the war was futile, a position adopted by numerous commentators as we mark the war's centennial this year.

Yet this school of thought has failed to convince the majority of historians. While recognizing the importance of Mr. Clark's meticulous study of the background to the war, critics have pointed to the fact that he rushes through the events of the last week in July 1914—surely the most significant period of the entire prewar period. Similarly, military planning and preparedness, seen by many as essential to understanding the outbreak of war, get little attention from Mr. Clark. The most controversial of his ideas, though, is that of the sovereigns, politicians and generals of Europe collectively "sleepwalking" into catastrophe. It makes responsibility between individuals and states relative. Far from somnambulating, the key players knew all too well the paths they were traveling.

Whatever reservations one might have about Mr. Clark's broader thesis, in "The Sleepwalkers" he did a very valuable service in putting Austria-Hungary, Serbia and the Balkans back at the center of the debate and in demonstrating the immense complexity of the issues at stake. The emergence of Austria-Hungary out of Germany's shadow is one of the most significant post-Fischer historiographical developments. Shut out of its traditional spheres of influence in Italy and Germany by the creation of those nations, Austria-Hungary increasingly looked to the Balkans in the early 20th century. There the decline of the Ottoman Empire (Turkey) appeared to offer rich territorial pickings. But the Austro-Hungarians faced a rival force in the form of Balkan nationalism, centered on the resurgent state of Serbia, which aspired to create "Yugoslavia," a nation encompassing all Serbs, including the large number living under Habsburg rule in provinces like Bosnia, Croatia and Vojvodina. In the background loomed Russia, which saw itself as the protector of the South Slavic people.

In "A Mad Catastrophe: The Outbreak of World War I and the Collapse of the Habsburg Empire" (Basic, 440 pages, $29.99), Geoffrey Wawro accepts German "war guilt" but makes a powerful case for sharing it with Vienna. Mr. Wawro, an American military historian, offers a picture of an Austro-Hungarian leadership that was reckless in the extreme. A fatalistic sense of "now or never" gripped men such as Emperor Franz Josef —depicted here not as a charming anachronism but as "an altogether malevolent force"—the foreign minister, Count Berchtold, and the army chief of staff, Conrad von Hötzendorf. The outrage in Sarajevo offered an opportunity to settle accounts once and for all with Serbia, suspected of being behind the crime. The decision-makers were very aware that an attack on Serbia might bring in Russia, and Vienna did not want a general war. But wishful thinking prevailed. Serbia was presented with an ultimatum designed to be rejected. When, to general surprise, the Serbs accepted nearly all the demands, Austria attacked anyway.

Out-of-control elements of the Belgrade government had certainly encouraged the assassins, and Mr. Wawro makes clear that Vienna regarded Serbia as a rogue state deserving of dismemberment. The Habsburg leadership ignored the possibility of chastisement without war. British Foreign Secretary Sir Edward Grey offered mediation or an international conference on no fewer than six occasions that summer. If the crisis had been internationalized in this way, it is highly likely to have resulted in Serbia being punished but also with its sovereignty left intact—and with the threat of a European war averted.

Alongside those pointing the finger of blame at this or that politician or state, there have been no shortage of writers eager to assign responsibility to long-term structural forces like imperialism, economic rivalry, militarism or arms races. Such explanations have the whiff of inevitability about them. In 1981, the German historian Wolfgang Mommsen went so far as to write an essay about "The Topos of Inevitable War in Germany in the Decade Before 1914." Such deterministic interpretations are much less in favor these days, and both Gordon Martel, in "The Month That Changed the World: July 1914" (Oxford, 484 pages, $34.95), and T.G. Otte, in "July Crisis: The World's Descent Into War" (Cambridge, 534 pages, $29.99), argue persuasively and at length that what individuals did during the July Crisis really mattered. These books are minute dissections of the events and the decisions that were made between the Sarajevo assassination and the outbreak of a general war on Aug. 4. Mr. Martel, a Canadian professor of history, argues that too much investigation of the origins of the war has taken place under "a dark cloud of predetermination, of profound forces having produced a situation in which war was inevitable."

Germany looms large in these discussions. It is unthinkable that Austria would have taken the path of confrontation with Serbia without the active backing of the Continent's dominant military power. This support was the result of a conscious decision taken by a tiny group of the German imperial elite, and on July 5, 1914, Wilhelm II issued what has become known to history as the "blank check" of unconditional support to Austria-Hungary. Three days later, a senior Austrian official privately wrote that there was "complete agreement" with the Germans; Serbia must be attacked "even at the risk of a world war which is not ruled out [by Berlin]." This letter, printed in Annika Mombauer's invaluable "The Origins of the First World War: Diplomatic and Military Documents" (2013), is one of many pieces of evidence that Fritz Fischer's arguments remain fundamentally sound. The belligerence of German foreign policy, the readiness of the German leadership to court war in pursuit of diplomatic objectives (in this case breaking up the "Triple Entente" of Russia, France and Britain) and its willingness to initiate an aggressive war are all Fischerite themes. John Röhl, who studied under Fischer, makes a compelling case in the recent third volume of his hugely impressive biography of Wilhelm ("Into the Abyss of War and Exile") that "the military-political discussions" of the war council of Dec. 8, 1912, "finally led to Armageddon in the summer of 1914."

Messrs. Martel and Otte are covering well-trod ground, yet they have produced distinguished and readable books that offer much detail of the failings and miscalculations of politicians, soldiers and diplomats across Europe. Mr. Martel's "The Month That Changed the World" relies on published primary sources (which are exploited very thoroughly) and secondary works, and the author makes very effective use of a day-by-day narrative approach. He has some acute insights. He notes that in 1938, during the Sudetenland Crisis, British Prime Minister Neville Chamberlain was determined to learn from the failure in July 1914 and hold a great-power conference. This resulted in his meeting with Adolf Hitler at Munich. "Men do learn from their mistakes," Mr. Martel dryly observes; "they learn how to make new ones." The book is rich in the traditional resources of the diplomatic historian: letters, telegrams and memoranda. Mr. Martel's conclusions are reminiscent of those of Margaret MacMillan: "War was neither premeditated nor accidental," he writes. He quite specifically states, moreover, that the leaders of 1914 "did not walk in their sleep."

Mr. Otte is particularly strong on a forensic revisiting of the sources, which he notes have tended to be played down in "the focus on impersonal forces." A historian of international relations at the University of East Anglia, he is balanced in his criticism of the Germans. While he argues that "No-one at Berlin willed war," his picture of the behavior of the kaiser and his chancellor, Theobald von Bethmann Hollweg, is highly unfavorable—showing them concerned time and time again that Austria-Hungary not back down even as they struggled to localize the quarrel in the Balkans. Mr. Otte denies that the German leadership had "criminal intent" but in the same paragraph notes a "recklessness that borders on the criminal. Theirs comes very close to it." The evidence presented by these and many other scholars points to the conclusion that at the very least the Germans were prepared to run the risk of a general war in order to achieve their diplomatic goals. If Russia did not receive the support of its partners, it was not unlikely that the alliance would break up.

Russian mobilization on July 30 is often seen as the act that made war inevitable, and occasionally Russia is painted as the villain of the piece. Sean McMeekin in "The Russian Origins of the First World War" (2011) argued that Russia's desire for Constantinople and the Turkish Straits was a prime driver for war. Much the same criticism can be directed at this notion as was leveled at Fischer's interpretation of the "September Program," which proposed the creation of a European system that Germany would dominate completely. The fact that during the war a government develops extensive war aims does not mean the state went to war to achieve them.

In the standout chapter of the essay collection "The Outbreak of the First World War" (Cambridge, 305 pages, $34.99), Ronald P. Bobroff offers a nuanced study of Russia's actions in the July Crisis. Enfeebled by defeat by Japan in 1904-05 and by the subsequent abortive revolution, the Russians had perceived Germany as the major threat in economic and diplomatic spheres for some time. Failure to respond in 1914, it was believed, would have undermined Russia's status as a great power. Enough was enough. In July 1914, to quote Mr. Bobroff, "the Russians reluctantly stood their ground, because they could no longer see any alternative." France certainly urged its Russian ally to stand firm. The nightmare for Paris was that the Triple Entente would collapse, leaving France to face Germany on its own.

"The Outbreak of the First World War," edited by Jack S. Levy and John A. Vasquez, is a fruitful collaboration of historians and political scientists that contains much high-class scholarship. The editors' introduction says some interesting things about the differing perspectives of the two scholarly disciplines on the subject. The four essays on preventive war—addressing the notion that Germany or Austria-Hungary or Russia was acting to smash a rising rival—for instance, give multifaceted views on a topic that was once central to the debate but that has taken a back seat of late. As have causal questions about July 1914: "A good explanation for the First World War," the editors point out, "should explain not only why war occurred in 1914, but why it did not occur before."

London, Paris and St. Petersburg had come together in a loose grouping that reflected both a fear of Germany and a desire to defuse long-running colonial rivalries. The British and French armies and navies had made joint plans, but there was no guarantee they would be honored by the British government in time of war. The ruling Liberals, led by Prime Minister H.H. Asquith, were an uneasy coalition that included men such as Winston Churchill and Sir Edward Grey, who recognized the importance to British security of supporting France in the face of German aggression, and John Burns and John Morley, who were to resign in protest at the move to war. The Welsh radical David Lloyd George was the key man in the cabinet. If he had stood out against war, Asquith's government may well have collapsed.

In the end, the maladroit German decision to invade Belgium on August 4 persuaded Lloyd George in favor of war. The brutal attack on a small neutral state in defiance of international agreements gave the British a standard around which all parts of the population could rally. It is entirely possible that had Germany refrained from invading Belgium, Britain would have stayed out of the war.

The British historian David Stevenson neatly summed up the relationship between structure and agency: "The European peace might have been a house of cards, but someone still had to topple it." War was not inevitable; it occurred because key individuals in Austria-Hungary and Germany took conscious decisions to achieve diplomatic objectives, even at the cost of war with Russia and France. The actions of the Great Powers in limiting the damage during the previous Balkan crises strongly suggests that, had the Austrians and Germans wished, the crisis of summer 1914 could have been resolved by the international community. Serbia could have been isolated and punished but left its independence. On this occasion, however, Austria-Hungary and Germany wanted war with Serbia and accepted the risk of escalation.

The War Guilt clause of the Versailles Treaty got it right: The outbreak of World War I was caused by "the aggression of Germany and her allies."

THE BOOKS OF AUGUST (indicações de Sheffield)

'A Mad Catastrophe,' 'July Crisis' and 'The Month that Changed the World' are books by academic historians that were written with an eye on the wider market and are very accessible to the general reader (Geoffrey Wawro's book exceptionally so). Yet, given the number of books on the origins of World War I appearing in this centennial year, there is a risk that older works might be overlooked. New books are not necessarily the best on any subject.

The Origins of the War  of 1914 (1943)by Luigi Albertini, remains a text of the utmost importance, acknowledged as the seminal work by modem historians. Albertini was an Italian journalist who in the 1930s interviewed many of the participants in the July Crisis and studied the mass of available documentation. His three-volume account is a detailed chronology of the events that lead to war and contains many astute insights.

Russia and the Origins of the First World War (1983) by D.C.B. Lieven is the classic study of the subject, showing how Russia tried, unsuccessfully, to deter its enemies in 1914. He acknowledges the growing German fears of Russian power but argues they were exaggerated.

The Origins of the First World War (2010) by William Mulligan is a short synthesis of modern research. He argues that a general war was far from inevitable; indeed, it was avoidable. His attention to the events of July 1914 prefigures the work of recent historians.

An Improbable War? (2007) edited by Holger Afflerbach and David Stevenson, is a series of essays loosely grouped around the question of whether the war of 1914 was 'improbable.' Holger Afflerbach argued that it was. Economic and cultural ties between states made general war utterly unlikely. Other contributors, including Samuel Williamson and John Röhl disagreed, and the result is one of the most stimulating books ever written on the vexed question of the origins of the war.

Dance of the Furies: Europe and the Outbreak of World War I (2011) by Michael S. Neiberg, examines attitudes before the war and in the initial months of the conflict. He shows just how wide of the mark is the notion that Europeans were universally rejoicing when war broke out. Only after the war was under way did patriotic belligerency become the norm.

—Mr. Sheffield holds the chair of war studies at the University of Wolverhampton. His "A Short History of the First World War" will be published in October.

http://online.wsj.com/articles/book-review-the-world-war-i-blame-game-1403302608