“Nem Heróis, Nem Vilões”, do
jornalista Moacir Assunção, é um estudo sobre a Guerra do Paraguai (1864-1870),
publicado recentemente pela Record (2012). Excluindo os agradecimentos, as
apresentações, a bibliografia e o índice, são 413 páginas de texto, dividido em
16 capítulos, mais a conclusão, uma cronologia e três entrevistas. Comecei a
ler a obra com uma expectativa positiva. Na orelha do livro, o historiador
Francisco Doratioto – talvez a maior autoridade sobre o conflito platino – afirma
que “Nem Heróis, Nem Vilões” possui uma “redação clara, direta e de leitura
agradável” e que “O leitor certamente terá, com este livro, uma leitura
prazerosa”. Na Apresentação, o jornalista Fernando Jorge escreve ser o “livro
enleante, capaz de magnetizar o leitor da primeira até a última página”, “fruto
de longa e cuidadosa pesquisa” e que “é, acima de tudo um livro inovador” “por
ser diferente, original”. Infelizmente, “Nem Heróis, Nem Vilões” não atendeu as
expectativas. O texto é confuso e muito repetitivo, indicando uma elaboração
rápida e uma revisão descuidada. “Nem Heróis, Nem Vilões” não é uma narrativa
cronológica da guerra, mas um conjunto de temas sobre ela. O leitor que não
conhece minimamente o conflito terá dificuldades e certamente ficará perdido em
muitos capítulos. O livro possuiu, no final, uma boa cronologia que pode ajudar
a atenuar esse problema, mas o autor poderia ter incluído, no início da obra,
um resumo narrativo da guerra em quatro ou cinco páginas, mais abrangente do
que os apresentados nos manuais escolares. Alguns erros históricos foram
cometidos, como na afirmação, na pág. 80, de que a Guerra da Cisplatina
(1825-1828) foi “movida por D. João VI contra o Uruguai”, quando, de fato, ela
ocorreu sob D. Pedro I e foi um importante fator que desgastou o seu governo,
como, aliás, a Guerra do Paraguai também desgastou o regime do seu filho D.
Pedro II. São falhas que podem ser resolvidas em uma nova edição. De toda
forma, o livro vale pelas curiosidades que resgata do conflito, ainda que exija
cautela com algumas informações. Não espere uma nova narrativa da guerra mais
importante que envolveu o Brasil desde a independência. Para isso, leia
“Maldita Guerra” de Francisco Doratioto (Companhia das Letras, 2002). E não espere
também um Laurentino Gomes.
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Um comentário:
Peço licença para, respeitosamente, discordar do colega professor. Acabei de ler a obra citada, Nem heróis nem vilões, do jornalista Moacir Assunção e pude constatar exatamente o contrário do que o colega afirma em seu comentário. Sabemos como historiadores que um livro deve ser medido pela contribuição que oferece à história de um episódio importante. Assim, o livro, cujo autor escreveu também Os homens que mataram o facínora, sobre os inimigos de Lampião, traz uma série de temas novos à história como, por exemplo, a participação dos Estados Unidos na guerra, contra o Brasil, descrições dos locais de combates, dados novos sobre a questão das doenças de guerra e as disputas entre os aliados Brasil e Argentina e, mais importante ainda, a inclusão de novos personagens, praticamente desconhecidos nessa história. O colega já tinha ouvido falar, por exemplo, de Carneiro de Campos, de José Berges, chanceler paraguaio, dos escritores pró e anti-López e tantos outros destacados no livro como a bisnete de Solano López, Gladys Solano López? conheço e também admiro a obra do professor Doratioto- que, aliás, referenda a obra de Moacir Assunção em sua apresentação - e não vi, ao contrário do colega, texto confuso e repetitivo. Quando há repetição, sempre é citado o que veio antes. Realmente, acho que o autor não pode ser confundido com Laurentino Gomes. A pesquisa é bem mais completa que a dos livros do autor citado. Um abraço, Jorge Luiz Monteiro, professor de História e Sociologia
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