Pessoal, mais uma dica de livro: Paz em Paris 1919 de Margaret Macmillan. O livro detalha as negociações de paz após a Primeira Guerra Mundial. Segue a resenha feita por Jerônimo Teixeira na Veja (abril de 2004).
Uma bela crônica da conferência que reuniu, na Paris de 1919, os vencedores da I Guerra
Quatro senhores grisalhos engatinhavam sobre um imenso mapa da Europa, disposto no chão da sala. Como garotos em torno de um tabuleiro de jogo, traçavam linhas ao redor de rios, mares, montanhas, povos. Eram líderes de potências vencedoras da I Guerra Mundial – Estados Unidos, Inglaterra, França e Itália. Tinham uma dupla missão: redesenhar o mundo e garantir a paz depois de quatro anos da guerra mais brutal já travada. As conferências do pós-guerra em Paris são reconstituídas com assombroso detalhismo em Paz em Paris, 1919 (tradução de Joubert de Oliveira Brízida; Nova Fronteira; 640 páginas; 69 reais), da historiadora Margaret MacMillan, professora da Universidade de Toronto, Canadá. O livro é um inventário minucioso do cipoal de disputas geopolíticas que os peacemakers (líderes pacificadores) se propuseram a desenredar.
Um mundo confuso levantou-se dos escombros em 1918. No lado derrotado, desapareceram os impérios Austro-Húngaro e Otomano. E as nações vencidas, especialmente a Alemanha, deveriam ser punidas de algum modo. Para tratar desses temas em seis escassos meses, a conferência previa um plenário com 32 países, inclusive o Brasil. As decisões cruciais, porém, ficaram a cargo dos chamados Quatro Grandes (veja quadro). A Rússia revolucionária não compareceu.
Margaret MacMillan é bisneta do primeiro-ministro britânico Lloyd George. Mas não há nenhum traço de parcialidade na sua descrição do antepassado. Um dos grandes méritos do livro, aliás, é o modo ao mesmo tempo generoso e crítico com que seus personagens são retratados. Ao lado dos fatos históricos duros, Margaret apresenta a crônica social da conferência. Conta, por exemplo, o picante diálogo entre Clemenceau e uma das filhas de Lloyd George. O primeiro-ministro francês perguntou à moça se ela gostava de arte e, ao receber uma cândida resposta positiva, sacou cartões-postais eróticos do bolso. O grande protagonista é o presidente americano, Woodrow Wilson. Foram os seus chamados "Catorze Pontos", apresentados em um discurso de 1918, que estabeleceram os princípios para a desejada paz. Wilson buscava novas bases para as relações internacionais, com a criação da Liga das Nações, organismo devotado a arbitrar disputas e manter a paz. Era um ideal grandioso, mas fracassou: os adversários de Wilson no Congresso americano barraram a entrada dos Estados Unidos na Liga. Sem a potência americana, a instituição nunca fez sentido.
O resultado mais conhecido das conferências de paz foi o Tratado de Versalhes, que estabelecia retaliações à Alemanha. Margaret contrapõe-se à visão tradicional de que a humilhação de Versalhes conduziu a Alemanha ao nazismo e o mundo a uma nova guerra. Hitler, argumenta ela, não fez a guerra por causa do tratado. Ela também lembra que alguns imbróglios internacionais contemporâneos têm sua origem na Paris de 1919. Foi então que apareceu a proposta de criar um país inviável chamado Iraque. Recriar o mundo em seis meses não era mesmo tarefa fácil. Clemenceau sabia do que estava falando quando se queixou, durante a conferência: "É bem mais fácil fazer a guerra do que a paz".
Veja quem foram os líderes que reformularam a ordem internacional depois da primeira Guerra: http://veja.abril.com.br/210404/popup_livros.html
Um comentário:
vlw a dica professor, vou ver se encontro o livro, achei bastante interessante.
Postar um comentário